“ Sabes tu de um poeta enorme,
Que andar não usa
No chão, e cuja estranha musa
,
Que nunca dorme,
Calça o pé melindroso e livre,
Como uma pluma
,
De folha e flor, de sol e neve,
Cristal e espuma
,
E mergulha, como Leandro
,
A forma rara
No Pó, no Sena, em Guanabara
E no`Scamandro;
Ouve o Tupã e escuta o Momo
Sem controvérsia,
E tanto adora o estudo
,
Como adora a inércia;
Ora do fuste, ora da ogiva;
Sair parece,;
Ora a Deus do ocidente e esquece
Pelo deus Siva
;
Gosta do intrépito infinito
Gosta das longas
Solidões em que se ouve o grito
Das arapongas
Se, ama o rápido besouro,
Que zumbe, zumbe.
E a mariposa que sucumbe
Na flama do ouro,
Vaga-lume e borboletas
Da cor da chama,
Roxas, brancas, rajadas, pretas
Não menos ama
Os hipopótamos tranquilos
E os elefantes
E mais os búfalos nadantes,
E os crocodilos
Como as girafas e as panteras
Onças, condores,
Toda casta de bestas-feras
E voadores
Se não sabes quem ele seja
Trepa de um salto
Azul acima, onde mais alto,
A água negreja;
Onde morre o clamor iníquo
Dos violentos;
Onde não chega o sorriso oblíquo
Dos fraudulentos
Então olha de cima posto,
Para o oceano;
Verás num longo rosto humano
Teu mesmo rosto;
E hás de rir, não do riso antigo
Potente e largo,
Riso eterno moço amigo;
Mas de outro amargo,
Como o riso de um deus enfermo,
Que se aborrece
Da divindade, e que apetece
Também um termo”…
Machado de Assis
(Em Papéis avulsos: em homenagem a um amigo.)
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